minha escrita sempre foi meu grito mais alto. sempre foi o jeito de como eu me expressei mais claramente. sempre foi o modo de como eu me aliviava, sem cortar os pulsos.
meus textos me faziam ter um sentimento bom no meio de toda a angustia que eu sentia.
orgulho. essa é a palavra.
eu ficava orgulhosa de mim mesma quando eu escrevia. não porque eu achava que eu escrevia bem, mas sim porque uma vez por mês eu conseguia dizer tudo aquilo que eu guardei pra mim mesma durante dias. você já teve dor de estômago? que nem a saliva desce direito? a saliva são as palavras que eu me recusava a dizer. depois de horas com dor no estômago, você vomita não é? você se alivia.
meus textos eram meu alivio.
e quando eu me sentia mal de novo, eu lia os meus textos, passava eles a limpo, e isso me dava a mesma sensação.
orgulho.
meus textos me traziam um alivio que nenhuma outra palavra dita da boca de alguém de aliviava.
e agora eu não tenho mais.
o meu coração já está apertado por saber que nunca mais vou sentir esse alivio.
eu já sabia que estava desmoronando, só não sabia que seria tão rapido.

20 de março

oi mãe, feliz aniversário, espero que esteja tudo bem com você, te desejo tudo de bom, por mais que não pareça...
34 anos da mulher que me deu a vida, e nem responder a minha mensagem você respondeu.
queria ter ido ai hoje, ter feito bolo pra você porque eu sei que você amava quando eu cozinhava pra você, acendido uma vela e ter cantado parabéns pra você, ter dado um beijinho no seu rosto, te abraçar e sentir seu cheiro de perfume doce misturado com cigarro, e dormir apertadinha, eu, você e o meu irmão. mas infelizmente, não é essa a vida que o universo trouxe pra nós né?
você é a minha mãe, era pra ter sido a minha heroína, mas na verdade, foi só mais uma que me destruiu por dentro..
me desculpa por não ser a filha que você sempre sonhou, me desculpa por ser quem sou, porque talvez se eu fosse diferente,talvez você me amasse né? talvez eu nunca te decepcionasse contando que gosto de garotas também, talvez nunca te magoaria por fumar,por beber,por ser inutil...é que eu não sei se você reparou, eu sofri muito, e a minha dor fez eu amadurecer mais cedo. e ultimamente não quero me aliviar cortando os pulsos, então eu fumo, porque me acalma e não me deixa cair numa crise de choro, as vezes eu bebo pra sair da realidade e ficar um pouco feliz... mas disso tudo você não sabe né? porque nem fez questão de me perguntar nada.
enfim, feliz aniversário, que Deus te abençoe.....

"vai,porque o amor é livre e te prender nunca foi opção"

meu amor, estou te escrevendo essa carta porque eu quero que você vá! eu quero que você vá em busca dos seus sonhos, quero que você volte a desenhar, quero que você volte a ser feliz. e não é que eu estou te expulsando da minha vida, é que ficar comigo não vale mais a pena, e não é falta de amor, porque eu te amo muito e sei que você me ama também, é que nós temos princípios diferentes, e eu sei que você está cansado de se moldar pra se encaixar no meu quebra-cabeça. e não precisa disso, você transborda sí mesmo e não deveria deixar isso escorrer pelo ralo. então vai, vai procurar sua felicidade, vai porque o amor é livre e te prender nunca foi uma opção.
te amo e sempre amarei, com amor da tua princesa dos cabelos de fogo..

aos 09 anos me ensinaram que ser eu mesma não era bom,eu tinha que ser aquilo que agradava aos outros, não a mim.

aos 10 me ensinaram que eu tinha que usar vestidos,saias,sandalias,porque eu nasci menina.

aos 11 me ensinaram que mesmo que eu tinha que ficar quieta,aquilo me fez mal mas ninguém precisa saber, "você vai destruir sua familia,seu tio vai matar ele"

aos 12 me ensinaram que eu era inutil, que eu não servia pra nada, que eu tinha destruído minha familia, que era culpa minha, que se ele fez,eu provoquei, eu era a culpada,por mais que eu nem tinha noção do que tava acontecendo

aos 12 eu tentei me matar.

aos 12 eu me droguei.

aos 12 eu bebi.

aos 12 eu morri por dentro.

aos 13 não deixei que ninguém me ensinasse nada, porque aos treze, eu aprendi que nada vale mais que minha saúde mental, eu aprendi que ser eu mesma,é a melhor coisa que eu poderia fazer, eu aprendi que eu tenho que usar a roupa que me deixa confortavel com o meu corpo, eu aprendi que nunca devo me calar,porque durante quatro anos, o silêncio foi o meu grito mais alto, e aquilo me matou por dentro. eu aprendi que eu sou incrível, que eu sou capaz de ser amada por alguém, que eu não destruí nada, a unica coisa que eu fiz foi defender o meu corpo, que inclusive aprendi que qualquer "carinho" sem o meu consentimento, não é carinho,é abuso. aos 13, me coloquei como prioridade, e não deixei que me ensinassem mais nada que não fosse para o meu bem.

as vezes eu paro pra olhar o mundo, e vejo apenas pessoas vazias, tentando se preencher com coisas fúteis,uma sociedade repleta de depressão,ansiedade,assédio. uma farmácia em cada esquina não é capaz de curar uma sociedade doente. palavras que machucam mais que um tiro, adolescentes procurando alívio na automutilação, gente dando palpite em opressão que não sofre, um aqui que não faz esforço pra entender o outro, e outro lá virando as costas pra aquele que ele disse que sempre estaria lá. falta empatia. falta amor. tento me encher de amor todos os dias, e dar amor pra aquele que se sente oco, mas é tanta gente lixo fazendo gente incrivel se sentir um lixo. o tempo passa e aquela esperança que habitava naquele que chora todas as noites vai indo embora por conta de atitudes desnecessárias daquele que o ego é maior que a compaixão. gente acordando com o pensamento de que não vale mais a pena sonhar. eu vejo tudo isso e fico tão triste, porque a unica coisa que pode te preencher está com você todos os dias. e é triste que eu já tenho todo o amor do mundo em mim, e as pessoas estão acostumadas com o pensamento de que "não tem mais solução", e o amor que vive em mim, elas não querem, estão tão acostumadas com o fato de estar vazia que qualquer mudança na vida delas é perigoso, mesmo que seja para o bem delas. :(

mais uma noite sem seus cabelos de fogo no meu travesseiro.
mais uma noite, que eu me encontro bolando um sozinho,
e são nesses momentos que eu percebo que realmente te perdi.
não tem mais você pra beber comigo,
não tem você pra jogar o colchão na sala, ligar na netflix e ficar lá
os primeiros 10 minutos eram decisivos:
ou transa,ou dorme.
maldita mente.
maldida lâmina.
como eu não percebi, que todos os dias você acordava antes, e quando eu acordava
seus olhos estavam inchados de tanto chorar?
como eu não percebi sua necessidade de sempre guardar tudo pra sí?
como eu não percebi?
maldita vida.

por quase um mês pensei que estivesse apaixonada
pensei que teria me apaixonado pela sua alma antes do seu corpo,
e pensei que estariamos juntos pra sempre.
mas depois descobri que esse papo de amorzinho não é pra mim, não é pra nós.
talvez até seja pra mim,
mas eu e você? não somos nada,
além de sexo.